DARK WATER – ÁGUA NEGRA
Ficha Técnica
Título Original: Honogurai Mizu No Soko Kara |
Elenco
Hitomi Kuroki (Yoshimi Matsubara) Data que foi assistido: 01.12.2005
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Sinopse : Yoshimi Matsubara (Hitomi Kuroki) é uma mulher que se divorciou recentemente. Juntamente com sua filha Ikuko (Rio Kanno), ela se muda para um apartamento que aparentemente é perfeito, apesar de estar localizado em um prédio antigo. Os problemas começam quando surge uma goteira insuportável, que invade o apartamento. Yoshimi procura o agente imobiliário e o síndico, mas nenhum deles consegue resolver o problema. |
Interessante notar que Hollywood anda copiando, sem qualquer cerimônia, as produções orientais. A cinematografia japonesa parece que caiu no gosto dos chefões dos grandes estúdios. Por falta de bons roteiros americanos ou por falta de criatividade mesmo (o que parece ser o mais provável), o certo é que o cinema oriental está invadindo os escritórios dos grandes executivos de Hollywood que não perdem a oportunidade de copiar a criatividade alheia para faturar uns dólares a mais.
Para não fugirem à regra, convidaram o diretor Walter Salles para fazer a versão de Dark Water – Água Negra (Honogurai Mizu No Soko Kara), roteiro de Hideo Nakata e Takashige Ichise, (baseado em livro de Kôji Suzuki). Segundo a crítica especializada, Walter Salles conseguiu fazer um bom filme com uma perspectiva bastante própria. Como ainda não tive a oportunidade de ver a produção americana, só me resta, por hora, comentar o original japonês dirigido por Hideo Nakata.
Yoshimi Matsubara (Hitomi Kuroki) é uma mulher divorciada que está lutando na justiça a guarda de sua filha de seis anos. Durante este processo, ela procura um local para morar e assim poder criar sua filha. Encontra um apartamento vago em um prédio já bastante antigo e com alguns problemas de infiltrações. Apesar dos inconveniêntes, resolve ficar com este imóvel já que o mesmo é perto de uma escola infantil onde pode deixar sua filha enquanto procura um novo emprego.
Após a mudança, percebe que as tais infiltrações e umidades do prédio estão ficando cada dia mais evidentes. Procura o síndico para fazer as devidas reclamações, mas não obtém nenhum resultado prático. Enquanto isto, sua filha kuko Matsubara (Rio Kanno) encontra uma mochila vermelha repleta de brinquedos, provavelmente de alguma criança do prédio.
Já que o síndico não consegue resolver o problema das infiltrações do seu apartamento Yoshimi acaba procurando, ela mesma, saber o que se passa no andar de cima. Ao averiguar tal situação, percebe movimentos no apartamento e uma criança com capa de chuva amarela que foge à sua aproximação. Sua filha também começa a apresentar distúrbios de comportamento, como falar sozinha e ter visões com outra criança.
Num suspense crescente, o diretor vai colocando alguns elementos que intrigam o espectador: Quem é a tal criança com a capa amarela? De quem é a tal mochila vermelha? Porque ela escuta passos no apartamento de cima, mesmo sabendo que não tem ninguém morando no imóvel? Porque seu apartamento está sendo inundado por goteiras sem fim? . Sem conseguir resultados resolve apelar para o corretor que lhe vendeu o apartamento. Juntamente com seu advogado, o corretor e o síndico dirigem-se ao andar de cima e o encontram completamente alagado. Na caixa d’água do prédio muita infiltração e sujeita e outro mistério: A última limpeza da caixa d’água ocorreu na mesma data em que sumiu uma criança. Na tentativa de solucionar estes mistérios e, mesmo após devolver a tal mochila vermelha ao síndico, para que este devolvesse a sua verdadeira dona, encontra sua filha de posse da mesma
Ao ser chamada às pressas a escola de sua filha, vê no mural um desenho de uma menina de capa amarela e mochila vermelha feito por Ikiko e intrigada pergunta ao diretor o significado. Ele informa que uma criança sumiu do bairro e ninguém nunca mais soube notícias ou o paradeiro da menina.
Assim, desconfiando que a mesma criança que vê constantemente no seu prédio é a mesma que aparece para sua filha, Yoshimi, apavorada, resolve mudar-se para outro lugar com medo do que possa acontecer a ela e a sua amada filha. Mas como está vivendo em constante pressão do ex-marido, que continua lutando pela guarda da filha e as longas discussões e até mesmo ataques físicos nas audiências judiciais, seu advogado a convence a ficar no prédio e manter-se calma e confiante. Não pode mostrar fraqueza e muito menos desequilíbrio emocional perante o juiz. Assim, ela resolve ficar.
Péssima escolha. Ao ficar no apartamento, resolve finalmente descobrir o que realmente está ocorrendo, uma vez que a tal criança parece disposta a colocá-las em grande perigo. Em uma situação bastante sufocante deixa sua filha sozinha no apartamento e vai verificar o que está, de fato, ocorrendo no andar de cima. Ao regressar ao apartamento descobre a menina inconsciente no chão do banheiro que está completamente alagado de água negra e suja. Corre com a menina nos braços pelo corredor para fugir do iminente perigo. Quando a porta do elevar começa a fechar-se, percebe, estarrecida, que sua filha realmente está em grande perigo e que precisa tomar uma decisão das mais difíceis que uma mãe pode tomar. Uma decisão que vai mudar profundamente sua vida e o destino de sua amada criança.
É de deixar qualquer um com o nó na garganta e um frio na espinha. Quantos sacrifícios uma mãe é capaz de fazer por seus filhos. Os momentos que se seguem explicam toda a trama e o grande amor que esta mulher tinha por sua filha. Tomou sua decisão em um momento de pânico. Fez sua escolha consciente que este era o melhor caminho a seguir para dar um futuro a sua menina.
Brilhante atuação da garotinha Rio Kanno e segura e contida interpretação de Hitomi Kuroki. O diretor Hideo Nakata soube contar sua história de forma a criar um clima de suspense crescente até seu final surpreendente. Não usou de artifícios fáceis ou efeitos de grande magnitude, mas conseguiu, de forma competente, passar sua concepção de um terror psicológico na medida certa. Agora é aguardar a versão de Walter Salles.
HOTEL RUANDA
Ficha Técnica
Título Original: Hotel Rwanda |
Elenco
Don Cheadle (Paul Rusesabagina) Data que foi assistido: 12.12.2005
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Sinopse : Em 1994 um conflito político em Ruanda levou à morte de quase um milhão de pessoas em apenas cem dias. Sem apoio dos demais países, os ruandenses tiveram que buscar saídas em seu próprio cotidiano para sobreviver. Uma delas foi oferecida por Paul Rusesabagina (Don Cheadle), que era gerente do hotel Milles Collines, localizado na capital do país. Contando apenas com sua coragem, Paul abrigou no hotel mais de 1200 pessoas durante o conflito. |
O ser humano é realmente fantástico. É capaz de produzir uma nave espacial para levá-lo à lua; submarinos para mergulhar nas profundezas do mar e sensibilidade para criar grandes obras literárias e nas artes plásticas. É capaz ainda de fazer transplantes de coração, clonar ovelhas e ainda desenvolver grandes avanços tecnológicos e científicos. É capaz também de emocionar grandes platéias com as sinfonias clássicas ou concerto pop.
Paradoxalmente, este mesmo ser humano é capaz de produzir o genocídio. Em 1994 o ser humano provou que é capaz também de praticar a maior das atrocidades: Eliminação total e cruel de seu semelhante. Intolerância e preconceito entre pessoas da mesma cultura e do mesmo pais. Como isto é possível? Como explicar, racionalmente, esta dualidade humana? Coexistem, na mesma genética humana, o bem e o mal; o belo e o feio. Amor e ódio.
Quando assisti ao filme Hotel Ruanda, dirigido por Terry George e brilhantemente interpretado por Don Cheadle (baseado em uma história real vivida por Paul Rusesabagina em Ruanda) fiquei perplexo e atônito com tanta crueldade e maldade a que o ser humano é capaz de praticar com seus semelhantes.
O mais triste nesta história toda, é perceber que pouco fez a comunidade internacional para evitar este genocídio. Por falta de interesse econômico na região, os países, ditos do primeiro mundo, nada fizeram para evitar tamanha barbárie. Aliás, omitiram-se vergonhosamente.
A O.N.U. e a Cruz Vermelha, com pouco pessoal na área, também não foram capazes de evitar a eliminação de mais de um milhão de pessoas em apenas cem dias de guerra étnica entre Hutuss e Tutsie em Ruanda.
Diante de tanta dificuldade e sem o apoio humanitário dos paises “brancos” da comunidade internacional, os ruandenses tiveram que buscar saídas para seus inúmeros problemas de sobrevivência no seu próprio cotidiano. Contavam com a boa vontade e ajuda de pessoas da própria comunidade que se dispusessem a ajudá-los, mesmo que tal ajuda significasse o risco da própria vida.
Paul Rusesabagina foi um homem que colocou sua vida em risco em várias oportunidades para salvar sua família (ele um Hutus casado com uma Tutsie). Como era gerente do luxuoso hotel Mille Colines abrigou ambas as etnias e principalmente os “baratas” Tutsies que estavam sendo massacrados pela tribo inimiga. O hotel acabou virando uma espécie de campo de refugiados para onde convergiam os desabrigado e os sobreviventes do massacre. Paul acabou sendo uma tábua de salvação para muita gente e aos poucos foi tomando consciência que tinha que salvar, além de sua própria família, o povo ruandense. Subornando oficiais Hutus com bebidas, charutos e dinheiro, foi aos poucos dando abrigo a todos que o procuravam por proteção e abrigo. Longe de ser um herói visionário, lutou com todas suas forças para salvar seu povo da sina genocida.
Na tentativa de conseguir alimentos para os “hospedes” no Mille Colines, Paul vai ao encontro de um oficial em outra localidade. No caminho de volta ao hotel, encontra centenas de corpos mutilados abandonados pela estrada. Procura manter-se firme e forte e não contar a ninguém o que presenciara. A cena em que ele – sozinho – troca de roupa e tentata dar nó na gravata acaba percebendo que a realidade é mais cruel que sua tentativa de manter-se na aparente normalidade. Cai em prantos e arranca gravata e camisa. A partir daquele momento ele se transforma no herói de seu povo e salva, com sua coragem e determinação, mais de mil pessoas da cruel e bárbara morte.
E pensar que na África, neste exato momento, existem outros conflitos étnicos semelhantes. Vidas estão sendo trucidadas e eliminadas sem a menor chance de receberem ajuda humanitária. Seguimos nossas vidas cotidianas longe desta realidade que afligem inúmeros seres humanos neste azul planeta.
O filme é um grito de socorro dos povos em conflito na África ou em outro lugar. Realmente o ser humano é fantástico. Para o bem ou para o mal. Paul fez sua parte protegendo e salvando vidas. Fez muito mais este verdadeiro herói do cotidiano africano: Viveu para contar-nos sua história para que possamos evitar que tal barbárie se repita.
2 FILHOS DE FRANCISCO
Ficha Técnica
Título Original: 2 Filhos de Francisco – A História de Zezé Di Camargo e Luciano
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Elenco
Márcio Kierling (Zezé di Camargo)
Data que foi assistido: 13.12.2005
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Sinopse : Francisco Camargo (Ângelo Antônio) é um lavrador do interior de Goiás que tem um sonho aparentemente impossível: transformar dois de seus nove filhos em uma dupla sertaneja. Ele inicialmente deposita sua esperança no mais velho, Mirosmar, e resolve lhe dar um acordeão quando completa 11 anos. Mirosmar e seu irmão Emival, que toca violão, se apresentam com sucesso nas festas da vila onde moram, mas devido a perda da propriedade onde moravam nos anos 70 toda a família é obrigada a se mudar para Goiânia. Mirosmar e Emival começam então a tocar na rodoviária local, na intenção de conseguir algum dinheiro para ajudar em casa. Lá eles conhecem Miranda, empresário de duplas caipiras, que viaja com eles por mais de 4 meses. Os irmãos novamente fazem sucesso e chegam até mesmo a cantar para 6 mil pessoas em um show no interior do país, mas um acidente encerra prematuramente a carreira da dupla. Após quase desistir da carreira artística Mirosmar decide voltar a cantar, agora usando o nome artístico de Zezé di Camargo. Ele grava um disco solo, mas não obtém sucesso. Já casado e com duas filhas pequenas, Zezé tem dificuldades em sustentar a família e o máximo que consegue é que outras duplas cantem composições suas. É quando ele encontra em seu irmão Weston, que passa a usar o nome artístico de Luciano, o parceiro ideal para levar adiante sua carreira musical. |
Francisco é um lavrador humilde no interior de Goiás. Mora numa casinha muito simples com a mulher e nove filhos. Para criar sua família, passa o dia na roça. Na sua simplicidade de homem do interior Francisco tem um sonho na vida. Apesar da sua modesta vida e da ignorância dos acontecimentos que ocorrem a sua volta ele é um visionário. Sabe que não conseguiria fazer muita coisa por si próprio, um analfabeto de pai e mãe, ou mesmo por sua mulher e companheira. Mas Francisco tem um sonho. Afinal, sonhar não custa nada e, se for por vontade própria e por sua ferrenha disposição ao trabalho, ele irá atingir seu objetivo nesta vida. Afinal, ele é um homem trabalhador que não espera milagres do céu ou favores de ninguém. O sonho de Francisco é criar uma dupla sertaneja de seu filho mais velho, Mirosmar e seu irmão Emival. Para concretizar tal façanha, resolve dar de presente aos filhos um acordeon e um violão. Na sua idéia fixa leva os filhos a se apresentarem nas festas da cidade. Na igreja, nos comícios eleitorais ou nos bares da redondeza.
Faz mais este humilde senhor. Na sua cabeça não entende porque na sua cidade não existe uma escola para suas crianças e para os filhos dos lavradores das outras fazendas. Sabe que sem escola não existe futuro para seus meninos. Não quer deixar para seus herdeiros a vida difícil e sofrida das lidas do campo. Resolve fazer o que lhe compete: Faz, numa peça da própria casa, uma sala de aula.
Por ser taxado como louco pelos vizinhos e pelo sogro (que na realidade é o dono das terras em que mora e trabalha) Francisco vai embora com a família para Goiânia. Enfrenta muitas dificuldades financeiras como todo retirante do interior na grande cidade. Acaba trabalhando na construção civil. Mas não perde de vista seu sonho. Seus filhos, para ajudar na economia doméstica, resolvem fazer pequenas apresentações na rodoviária local. Lá são descobertos por um empresário canastrão e aproveitador que acaba por financiar apresentações da dupla por todo o Estado e região.
Em um acidente de carro Emival vem a falecer. Volta tudo a estaca zero. Seria impossível realizar o sonho de Francisco com a dor da perda do filho amado. Mas este homem não é de desistir facilmente de seus planos. Mas deixa o filho curtir sua dor pela perda do irmão o tempo que for necessário. Ele sabe que é preciso cicatrizar as feridas e deixar o destino fazer sua parte.
Já adulto Mirosmar troca o nome de batismo para Zezé Di Camargo e forma outra dupla tocando em boates e bares noturnos. Casado e pai de duas filhas não consegue o sucesso desejado. Com o irmão Waston faz outra dupla, agora denominada Zezé Di Camargo & Luciano e grava seu primeiro sucesso: É o Amor. Mas é evidente que tal estouro nas paradas de sucesso tem a genialidade de quem sabe o que quer na vida e não perde as oportunidades que se apresentam. Francisco, muito esperto, gasta seu salário de operário comprando fichas telefônicas que distribui entre seus colegas da construção civil e vizinhos, para que possam ligar para a rádio solicitando que a emissora toque a música da dupla sertaneja formada pelos filhos.
Começa uma nova era na família Camargo. Sucesso absoluto de público no Brasil inteiro, com milhões de discos vendidos. Uma legião de fãs os acompanha onde quer que se apresentem. Seu Francisco assiste a tudo orgulhoso de ter realizado seu grande sonho. Conseguiu tirar seus filhos do trabalho na roça. Deu-lhes ensino, casa e comida. Mas, acima de tudo, deu-lhes um futuro melhor. Acreditou no seu sonho e não perdeu jamais as esperanças, apesar de todas as dificuldades financeiras e emocionais.
Grande interpretação dos meninos e de Ângelo Antônio como seu Francisco. Boa fotografia e a simplicidade comovente da direção de arte. A trilha sonora. Bem, a trilha sonora é um capitulo à parte. Quem gosta de música sertaneja certamente vai adorar. Gostei da interpretação de Bethânia para um sucesso da dupla.
Um lavrador humilde do interior de Goiás lutou por seus sonhos: Dar uma vida melhor para seus filhos. Dois filhos de Francisco fazem sucesso cantando nos palcos do mundo. Na sua simplicidade seu Francisco sorri orgulhoso e feliz.
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