Hanami é uma festa tradicional japonesa de “apreciar flores”. O povo costuma fazer piquenique para comemorar as cerejeiras em flor que para eles possuem inúmeros significados: vida, continuidade felicidade e simplicidade. Além de ser a flor símbolo do Japão. Elas só florescem uma vez ao ano e dura cerca de uma semana. Por esta razão o povo fica em festa com suas cerejeiras em flor! Através desta metáfora do florescimento e da “continuidade” da cerejeira é que a roteirista e diretora Doris Dorrie conta sua comovente história do casal da terceira idade Rudi Angermeier (Elmar Wepper) e Trudi Angermeier (Hanellore Elsner).
Rudi Angermeier é um homem que detesta aventuras e leva uma vida pacata e tranquila. Acostumado com a rotina diária de levantar-se para ir ao trabalho e voltar ao fim do dia para casa, colocar seus chinelos e tomar sua cerveja. Não tem ambição alguma. Apenas um lema: “Uma maçã todo dia, a ida ao médio adia” Todavia, sofre de uma doença incurável e tem poucos meses de vida. Não sabe disso, já que sua esposa Trudi esconde a verdade.
Trudi Angermeier é uma mulher sonhadora que vive em função do marido. Relegou todos seus sonhos e suas fantasias para ser a companheira inseparável de Rudi. Soube da doença do esposo e sente que precisa fazer alguma coisa de importante para dar algum sentido a sua existência e a do querido companheiro. Sempre sonhou em conhecer o Japão e visitar o Monte Fuji além de ser uma amante da dança Butô (“Bu” significa dança, e “toh”, passo. Butô combina dança e teatro, em espetáculos centrados em temas como o nascimento, a sexualidade, o inconsciente, a morte, o grotesco. O corpo é esvaziado de referências culturais e se entrega a todo tipo de metamorfose). Quando recebe a notícia da doença de Rudi ela resolve convencer o marido a saírem do interior da Alemanha e visitar os filhos em Berlim como forma de aproximar a família nos últimos momentos.
Em Berlim reencontram os filhos Karolin, lésbica, e Klaus, casado e pai de duas crianças, que se mostram indiferentes a chegada do casal. Não possuem tempo, paciência ou mesmo afinidades entre eles. Os netos parecem desconhecer os avôs e a filha não tem a menor vontade de ficar “fazendo sala” para os pais. Assim o casal sente a indiferença dos filhos e netos e uma grande tristeza os acomete. Trudi – sabendo da doença do marido – resolve insistir na convivência entre eles na tentativa de aproximar a todos neste momento difícil. Mas para surpresa geral Trudi é encontrada morta pela manhã deixando Rudi inconsolável. Como forma de lembrar-se da esposa perdida e também para sentir-se mais perto dela, parte para o Japão para passar alguns dias em companhia de seu filho caçula Karl Angermeier (Maximilian Bruckner) que vive em Tóquio. Da mesma forma como seus irmãos não disponibiliza de tempo para fazer companhia ao pai e o abandona à própria sorte.
No Japão Rudi vive sozinho pelas ruas de Tóquio sem entender o idioma, a escrita e os costumes. Esta metáfora da “incomunicabilidade” é interessante já que – apesar de estar na companhia do filho – não consegue se comunicar ou se fazer entender e a afetividade entre ambos se anulam. Em seus passeios pela cidade conhece uma jovem dançarina de butô (papel de Aya Irizuki) que o transporta para um novo universo de compreensão, simbolismos e sensibilidades. Reencontra desta forma a paixão da esposa pelo país e a vontade que tinha de conhecer o Monte Fuji. Resolve então embarcar com a jovem dançarina para conhecer o Monte Fuji e a beleza simbólica da dança Butô para e assim estar mais próximo da querida mulher.
O filme é de uma beleza estética fantástica (pelas cerejeiras em flor), cenários naturais belíssimos e é claro pela interpretação de todo o elenco que supera, em muito, as expectativas dramáticas de uma produção que pretende tratar de assunto tão delicado. A cena em que a jovem dançarina faz seu bailado tendo como elemento um telefone é bárbaro. Seu simbolismo não poderia ser mais explicito: A Falta de comunicação entre pessoas que se amam; a rotina que distancia pessoas uma das outras e as pequenas declarações de afeto que não verbalizamos as pessoas que nos são caras. A incomunicabilidade dos amantes… A indiferença dos filhos… E, acima de tudo, a rotina que nos embrutece e silencia. Um filme de inúmeros simbolismos. Outra cena interessante é o momento em que Trudi resolve mostrar a Rudi a beleza da dança Butô. Ela parece querer aproximar o marido para a sua própria perspectiva de vida e trazer-lhe para o entendimento da beleza e do afeto. Como a dizer: Eu estou aqui, eu existo e, por amá-lo, perdôo por sua falta de comunicabilidade. E esta “comunicação” ele vai buscar depois como a querer reconciliar-se com a esposa e a finalmente entendê-la e amá-la muito mais. Não é à toa que usa as roupas da mulher em sua viagem. Veja o filme de espírito leve e não se acanhe em chorar ou a encontrar beleza nos clichês. Às vezes clichês nos dizem verdades que insistimos em não ver ou a acreditar.
Cris, diante de seus comentários fiquei com vontade de assistir. Vc tem o DVD??? Bjs.
Li seu comentário no Omelete e quero parabenizá-lo pelas excelentes palavras. Disse tudo. Esse filme é nostálgico, belo e de uma sensibilidade incrível. Gostei do seu blog.