Érico Veríssimo reescreveu a história do Rio Grande do Sul com sua obra O Tempo e o Vento já comentada e discutida em todos os cantos deste país continental e certamente já traduzido para vários idiomas. Quem não leu o Tempo e o Vento deveria fazê-lo imediatamente uma vez que o autor é reconhecido como um grande escritor e soube, como poucos, narrar os fatos ocorridos no Rio Grande do Sul e descortinar a saga do povo gaúcho além de retratar momentos importantes da história brasileira. Mas não é sobre esta obra extensa que gostaria de escrever uma vez que tudo já foi dito, escrito e reescrito sobre O Tempo e o Vento. Muitos estudos foram feitos sobre esta fantástica saga rio-grandense. Quero publicar aqui a comovente e singela forma com que Érico Veríssimo descreve a cena em que Ana Terra se entrega ao amor do índio Pedro Missioneiro.
Deixo aqui minha homenagem a esta obra magnífica e a recomendação para que leiam O Tempo e o Vento. Impossível ficar indiferente e não se emocionar com o amor de Ana Terra e Pedro Missioneiro. Meu olhar passou sobre cada palavra destas linhas com o espírito daqueles que amam e valorizam este sentimento e todas as transformações que ele traz.
Emocione-se com o encontro amoroso de Ana Terra e o índio Pedro Missioneiro, descrita por Érico Veríssimo. Poesia pura!
“Num dado momento sua madorna foi arranhada por um estralar de ramos secos que se quebram. Teve um retesamento de músculos e abriu os olhos. Tigre ou cobra – pensou. Mar uma dormência invencível chumbava-a à terra. Voltou um pouco a cabeça na direção do ruído e vislumbrou confusamente um volto de homem, quase invisível entre os troncos das árvores, bem como certos bichos que tomam a cor do lugar onde estão. Ana então sentiu, mais que viu, que era Pedro. Quis gritar mas não gritou. Pensou em erguer-se mas não se ergueu. O sangue pulsava-lhe com mais força na cabeça. O peito arfava-lhe com mais ímpeto, mas a paralisia dos membros continuava. Tornou-se a fechar os olhos. E ouviu Pedro caminhar, aproximar-se num ruído de ramos quebrados, passos na água, seixos que se chocam. Apertava os lábios já agora com medo de gritar. Pedro estava tão perto, que ela sentia sua presença na forma dum cheiro e dum bafo quente. Sentiu quando o corpo do índio desceu sobre o dela, soltou um gemido quando a mão dele lhe passou num dos seios, e teve um arrepio quando essa mão lhe escorregou pelo ventre, entrou-lhe por debaixo da saia e subiu-lhe pelas coxas como uma grande aranha caranguejeira. Numa raiva Ana agarrou com fúria os cabelos de Pedro, como se os quisesse arrancar.”
…
“E o tempo passava… À noite Ana dormia mal, pensava muito e temia mais ainda. Procurava convencer-se a si mesma de que podia viver sem Pedro, continuar como era antigamente. Achava que tudo tinha acontecido só por causa do calor e de sua solidão. Mas se por um lado ela queria levar os pensamentos para essa direção, por outro seu corpo ia sempre que possível para Pedro, com quem continuava a encontrar-se à hora da sesta no mato da sanga. Ficava com ele por alguns instantes, com o coração a bater descompassado. Falavam muito pouco e o que diziam nada tinha a ver com o que faziam e sentiam. Eram momentos rápidos, excitantes e cheios de sustos. E no dia em que pela primeira vez ela sentiu em toda a plenitude o prazer do amor, foi como se um terremoto tivesse sacudido o mundo. Voltou para casa meio no ar, feliz, como quem acaba de descobrir uma salamanca – ansiosa por ruminar a sós aquele gozo estonteantemente agudo que a fizera gritar quase tão alto como os quero-queros…”
Abaixo a cena do encontro de Ana Terra e Pedro na mini-série O Tempo e o Vendo da Rede Globo
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