Muito se fala sobre os tais sites de relacionamentos e como a juventude se relaciona com estes aplicativos da internet. Algumas pessoas criticam o tempo que os jovens passam em frente ao computador a teclar tempos infindáveis com pessoas que não conhecem pessoalmente (mas, com certeza, possuem alguma afinidade). Outras pessoas insistem que o internauta precisa ter um pouco de cuidado com o que dizem online e com quem se relacionam virtualmente. Aliás, cuidados estes que devemos ter também na convivência real. Devemos escolher bem nossos amigos e não devemos, igualmente, sair por ai a dizer impropérios a torto e a direito. Mas voltemos à internet… Uns são contra, outros a favor destes sites de relacionamentos como o Facebook, Twitter, Orkut e MSN e como tais sites interferem (ou não) na vida destes internautas compulsivos.
Eu confesso que sou assíduo usuário destes sites e me relaciono muito bem com todos eles. Tenho vários “amigos virtuais” e com eles troco informações, compartilho links interessantes e esta convivência é pacifica e bastante interessante. Tenho conhecido pessoas de outras cidades, outros estados e até de outros países. Dificilmente trocaria informações e bateria um bom papo com vários destes meus “amigos” não fosse esta possibilidade que a internet me disponibiliza. Sendo assim, dou graças a Deus a existência destes sites de relacionamentos.
Todo este preâmbulo só pra dizer que foi graças à Internet que conheci o poeta gaúcho Pedro Gonzaga. Para ser mais exato, a primeira vez que vi Pedro Gonzaga foi no programa Camarote TVCom (TVCom Canal 36 grupo RBS) no quadro Crônica Falada apresentado por Katia Suman. Fiquei impressionado pela desenvoltura e inteligência do moço. Depois quando a apresentadora Katia Suman resolveu lançar sua própria rádio na internet com o nome de Rádio Elétrica ela convidou o Pedro para que este apresentasse o programa “Música Para Adultos”. Uma programação musical do mais alto nível e bastante eclético. Assim, virei fã deste poeta gaúcho. Trocamos umas mensagens pelo Twitter e pelo Facebook onde sempre peço uma música para ser executada em seu programa. Por vezes comentamos um assunto e outro sobre nossas publicações nestes sites. Pedro é um gentleman e sempre atende meus pedidos, assim como de outros ouvintes. Devo dizer que ele é um cara bastante acessível e se mostra sempre interessado nas pessoas que o cercam. Responde sempre a todas as mensagens que recebe e “dialoga” com todos que estão nos seus círculos de amizades virtuais. Sendo assim, o considero meu amigo e, acima de tudo, seu fã de carteirinha.
Pedro Gonzaga é um cara multifacetado e multimídia. Veja só:
Poeta (com site na internet http://pedrogonzaga.wordpress.com),
Escritor com os seguintes livros publicados: Cidade Fechada (2004) e Dois Andares: Acima! (2007),
Músico (saxofonista do Trio Chico),
Tradutor de Charles Bukowsky (deste escritor traduziu os livros: O Amor é um Cão dos Diabos, Bukowsky Textos Autobiográficos e Factótum. Todos da editora L&PM) e outros poetas mais.
Locutor de Rádio. Criador e apresentador do programa “Música Para Adultos” da Rádio Elétrica. Para quem estiver interessado seu programa vai ao ar todos os sábados das 16h às 17h. Jazz, MPB e muita música de qualidade. Acesse o site www.radioeletrica.com.br e deleite-se!
Ah sim… O cara também é professor.
Abaixo poemas deste poeta gaúcho que tenho orgulho de chamar de amigo:
Contestação
ela avança devagar sobre o piso da sala
seus pés deixam marcas úmidas, sal e areia
passos em um antigo tabuleiro de caça ao tesouro
ela traz consigo uma brisa e um cheiro de mar
nos cabelos a espuma das ondas rebentadas
não consigo deixar de vê-la, meu deus
não consigo cerrar meus olhos:
como não amar sua pele jovem
feita de mel e amêndoas?
toma-me o desespero do instante
de ver na juventude dela
o tempo que já não tenho
de saber que não pode haver equilíbrio
na contemplação
no petrarquismo
foda-se o poema,
foda-se a necessidade da poesia
quero-a agora
quero-a como nunca
já estou farto de saber
silêncio, poetas
quero-a
digo a ela
crava-me os dentes
reputo falso
ouviram?
que nada se salva de uma tarde de verão.
-X-
Quase Já Não Há Garotas Sentimentais
quase já não há garotas sentimentais
a música popular, os anúncios das vitrines
os seriados da televisão as exortam ao ataque impiedoso
constrangendo sua necessária timidez
quase já não há garotas sentimentais
pelo simples fato de que o sentimentalismo
esvaziado de sua aura de folhetim
estava para dourar o interesse pragmático do casamento
quase já não há garotas sentimentais
em porto alegre
mas creio que em nova iorque ou hong kong
não seja diferente
quase já não há garotas sentimentais
porque hoje envergonha sentir em surdina
é preciso exagerar em coreografias e penteados
que revelem tudo aquilo que a norma pede
quase já não há garotas sentimentais
e por isso o mundo está perdido
por isso o mundo só poderá ser salvo
quando voltarem à provença um exército de trovadores
-X-
Espera
o som do chuveiro
através da porta
o ruído abafado das roupas
tombando surdas
no chão de pedra
tua nudez imaginada
e ainda não vista
existe em mim
há muito tempo
teus braços de bronze mediterrâneo
tuas coxas fortes de singrar olivais,
desenho teus seios no ar
dou-te cada metade
de uma maçã da Pérsia.
da cama recolho os ecos de tudo
sonar que registra
a posição exata de um perigo.
a água pára e
tu perguntas que toalha usar,
já mescla de sibilo e canto,
respondo ofegante
e a porta se escancara.
à luz do banheiro,
vejo as duas fendas negras no ouro
de tuas narinas de águia
o brilho feroz de tuas plumas
tuas garras feitas para ferir
brutos marinheiros
e que agora
afortunadamente
vem me dilacerar.
-X-
Continuidade da Vida
que me importa a continuidade da vida
os genes transmitidos às cegas
o cinismo transmitido às claras
de que serve a ilusão da descendência?
almejas um amparo na velhice?
a certeza de permanecer nos outros?
permanecer?
chamas um nome
um punhado de valores insulsos
um terreno em Xangrilá
a carteira do clube tranchã
de permanência?
descansa em paz, amigo
alguém cuidará de teu cão
ninguém lerá meu Apuleio
ficará na capa o disco do Coltrane
e que importa isso?
se a morte é uma ilusão dos vivos
como pode importar a continuidade da vida?
mas então eu vejo minha sobrinha de quatro anos
o modo como ela aperta os lábios e se concentra
para pintar um bocado de criaturas estranhas
em folhas de papel que distribui sem economia
e tudo o mais deixa de ter qualquer importância.
Quando Alice sorri (ainda que o faça como atriz)
nem mesmo um tolo é capaz de pensar
na continuidade da vida.
para Alice