Para um ateu como eu, tem me caído às mãos muitos livros sobre a vida de santos. Deve haver algum sinal cósmico ai que eu não estou conseguindo captar. Vira e mexe e, quando dou por mim, estou lendo alguma biografia de pessoas extremamente religiosas e de grande fé que foram canonizadas. Deve ser algum sinal…
Só este ano foram três: A Dama Azul, de Javier Sierra, A Conspiração Franciscana, de John Sack e o último, que acabei de ler esta semana: Teresa – A Santa Apaixonada, da jornalista carioca Rosa Amanda Strausz.
Teresa de Ahumada Sanchez Y Cepeda, que mais tarde ficou conhecida como Teresa D’Ávila nasceu na Espanha barroca e inquisitorial do século XVI. Na sua adolescência, era uma jovem como tantas outras de sua idade. Adorava uma festa, vestir-se com caros e belos vestidos e usar jóias caríssimas. Tinha plena consciência de sua beleza e charme e usava estes artifícios para encantar a todos. Quando seu pai, Dom Alonso de Sanchez Y Cepada ficou viúvo, se viu na obrigação de internar a filha, então com 20 anos, no convento das agostinianas de Nossa Senhora das Graças, a vida de Teresa mudou por completo.
Teresa na realidade já vinha desenvolvendo seu lado místico e de fé, mas não abria mão de seus dotes financeiros e levava uma vida bastante luxuosa em companhia da família e muitos criados. Ao entrar para o convento percebeu que tinha deixado para trás a vida mundana e que precisava mudar seu estilo e dedicar-se à sua nova vida. Não foi uma mudança fácil. Seus questionamentos sobre sua verdadeira vocação e fé a levaram, inúmeras vezes, a acreditar que estava a viver uma farsa. Sua busca incessante por respostas e muitas orações depois, convenceu-se que a vida no convento seria a única forma de encontrar o homem que procurava.
Quando começaram os desmaios, sacrifícios corporais e êxtases de pura fé compreendeu, finalmente, que estava no caminho da fé verdadeira e que sua vida seria dedicada ao único homem de sua existência: Jesus. Claro que a Igreja não aceitou facilmente esta mulher que dizia falar com Jesus e todo seu misticismo. Teresa representava um perigo para a Igreja Apostólica Romana. Ainda mais se levarmos em conta que ela viveu numa época onde as mulheres eram educadas ao silêncio e a obediência.
Apesar do sofrimento, da desconfiança de todos que a rodeavam e da doença que a deixou durante três anos ao leito, Teresa manteve firme sua fé e sua vontade de mudar a Ordem das Carmelitas. Depois de muito esforço e sofrimento finalmente foi reconhecida como Teresa de Jesus a “Doutora da Igreja”. Antes de morrer, aos 67 anos, em 1582, ainda fundaria 18 mosteiros, escreveria sua autobiografia e outros três livros. Foi oficialmente reconhecida como santa em 1662.
Rosa Amanda Strausz preocupou-se com seu livro em narrar a vida de uma mulher que trazia consigo a força da devoção e do amor absoluto por Jesus. Muito mais que narrar a história de uma santa, a escritora pretendeu contar a vida desta mulher que sofreu inúmeras humilhações, foi desacreditada, tida como visionária e mística. Mesmo assim não se abalou e viveu de acordo com sua fé e convicções.