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Posts Tagged ‘Romain Duris’

De Tanto Bater Meu Coração Parou uma produção francesa dirigido por Jacques Audiard  narra a história de Thomas Seyr (Romain Duris) um rapaz de 28 anos que trabalha no ramo imobiliário e é tão corrupto quanto o pai nesta atividade. Não perdoa inquilinos em atraso e usa de violência e muitas artimanhas para desalojar moradores inadimplentes. Com seus “colegas” de trabalho cobra dívidas com extrema violência e não aceita conversa fiada (Desculpem o trocadilho). Esta relação de amor (se é que é possível existir amor nestas circunstâncias) entre Thomas e seu pai, Robert Seyr (Niels Arestrup) sempre é conflituosa uma vez que esta luta diária pelo dinheiro alto que fatura no ramo imobiliário deixa-o sem perspectiva de saída a não ser levar esta vida de corrupção e truculência. Todavia, no íntimo não se sente feliz com esta escolha e vive um grande dilema: seguir o caminho do pai nesta atividade brutal ou o lado virtuoso da mãe, uma talentosa pianista. Ele tem talento musical (herdado da mãe) e ao reencontrar, dez anos depois, um empresário este o convida a preparar-se para uma audição e talvez o lance nos circuitos de concertos.  Este é a premissa básica do filme

Esta dualidade gângster/músico (ou se poderia dizer truculência e sensibilidade) é retratada durante toda a projeção do filme e mostra, claramente, o impasse em que Thomas vive. Como conciliar dois aspectos profissionais tão antagônicos e sensibilidades tão diversas?

Para acentuar ainda mais esta contradição (ou seria conflito?) em que vive Thomas Seyr ele resolve procurar ajuda com uma professora de piano para que esta possa ensaiá-lo para a tal audição com o seu futuro empresário. O grande detalhe é que a jovem professora é uma japonesa que não fala uma vírgula em Frances e a comunicação de ambos se dá somente pela música e algumas mímicas que pouco ajudam. Este truque no roteiro (a incomunicabilidade entre ambos) é interessante na medida em que mostra como está o espírito de Thomas: Não sabe dizer o que sente (ou não consegue fazer a sua escolha), mas sabe que a música é a sua única salvação possível. Tem talento e sensibilidade musical, mas emprega suas energias em um trabalho criminal que consome suas forças e o debilita ao mesmo tempo para a criação artística. Em certos momentos o espectador fica mesmo com vontade de ajudá-lo nesta questão e gritar-lhe que abandone esta vida bandida e dedique-se à música. Todavia, são tantas variáveis e questões a serem consideradas nesta encruzilhada em que se encontra, que realmente é de difícil escolher. Cabe ao espectador assistir o desenrolar da trama e torcer para que a sensibilidade vença a força bruta.

Uma cena que mostra claramente toda a angústia e conflito de Thomas é o momento em que ele vai assistir ao concerto de sua professora e no teatro encontra um desafeto. A princípio ele fica na dúvida se deve ou não correr atrás do homem e acertar suas diferenças ou ir assistir o concerto. Mas ele precisa ajustar suas contas, precisa levar sua vida e ganhar seu dinheiro e defender seus interesses. Precisa fazer o que tem que ser feito já que a música é um horizonte distante e um desejo apenas. Ou não? Então resolve correr atrás do sujeito pelas escadarias do prédio e ao encontrá-lo dá-lhe uma grande surra (e apanha também, claro afinal são homens de violência).

Ao deixar o sujeito estirado nas escadarias Thomas resolve ir assistir ao tal concerto e vê-lo naquele estado é simplesmente angustiante. Ele está todo ensangüentado e ferido, mas dirige-se à platéia para assistir ao espetáculo. Seus conflitos estão explícitos em suas expressões de dor, vergonha e desespero. Sabe que sua via está irremediavelmente perdida para a violência. Suas mãos machucadas dedilham um piano imaginário e o espectador fica com o coração na mão a assistir tanta dor e pedido de socorro mudo. Será que de tanto bater o coração de Thomas realmente parou? Será que seu coração deixará de bater ao ouvir uma boa música e apreciar o belo? Será que sua vida vai se resumir a ter um coração frio e calculista meramente mercantil sem sentimento algum?

Romain Duris interpreta de forma convincente os conflitos existenciais de Thomas e a fotografia ajuda a dar o clima de “vazio” e desesperança do personagem. O início da narrativa é um tanto enfadonho com as cenas da turma de “corretores imobiliários” a  tumultuar a vida de inquilinos indesejados, mas a partir do momento em que a narrativa foca este desejo do personagem para a música o filme começa a ficar interessante.

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