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Juventude em Ação

Em 1º de agosto de 2012 um grupo de jovens decidiu construir um movimento que lutasse por mais protagonismo social na cidade. Queríamos mais direitos e mais participação. Iniciamos, então, uma luta permanente em defesa dos interesses da população. E lá se vão dois anos e oito meses. Muitas histórias, conquistas, utopias, derrotas e amadurecimento. Mas isso tudo vocês pode ver nas páginas Sobre e Memórias JeA.

Aqui, na página inicial, traremos as opiniões de nossos colunistas de política, esporte e cultura. Ao longo das próximas duas semanas vocês conheceram nossos colunistas. Todos escreveram aqui quinzenalmente; escolhemos essa periodicidade para que pudessemos ofertar mais opiniões para vocês, leitores.

Para aqueles jovens – alguns apenas de espírito – parece mentira que hoje estamos tirando do papel o nosso site. É um sonho de muito tempo. Mas mesmo sendo no inusitado dia da mentira, podem ver que é a mais pura verdade. Trocadilhos a parte, sentimos muito orgulho desse espaço. Sabemos, também, da responsabilidade que temos de compartilhar nossas opiniões com vocês. E mais do que isso, queremos construir um diálogo, questionar e estimular nossos leitores a refletirem, pensarem e trocarem ideias.

Minha primeira coluna de apresentação:

Meu nome é Valdeci C. de Souza, sou brasileiro, maior (57 anos) , vacinado, casado e pai de um guri que vai fazer 25 anos e resolveu abandonar o ninho e morar em São Paulo. Pois é… Além de aposentado (oh coitado), sou produtor cultural atuando na Feira do Livro de Porto Alegre, no grupo Porta Aberta, Piquenique da Leitura e mantenho um espaço de eventos culturais na cidade chamado “Território do Pensamento” onde já ocorreram alguns eventos de música, teatro e saraus. Nas horas vagas, sou voluntário do Greenpeace grupo de Porto Alegre, realizando palestras em escolas e manifestações nas ruas da capital e região metropolitana.as quartas-feiras vou escrever sobre cultura. Minha perspectiva, claro já que cada um possui interesses diversos e conceitos diferentes do que seja cultura. Não pretendo ser o cara que vai trazer aqui a agenda cultural da cidade. Até pode ser, mas será mais uma visão particular minha sobre eventos culturais e afins. Como sou devorador de livros, amante da sétima arte e nada eclético em tratando-se de música, vou dar meus pitacos nesta área também. Isso se os leitores me aguentarem por muito tempo (risos).

Espero corresponder às expectativas e trazer, além de informações úteis, minha perspectiva sobre o tudo e o nada. Culturalmente falando, claro!.

Sorte e sucesso para o nosso site!

Sejam todos muito BEM-VINDOS e VOLTEM SEMPRE! É dia 1º de abril e ESTAMOS NO AR! 

Grandes Olhos

Grandes Olhos, Dirigido poTim Burton com Amy Adams e Christoph Waltz é um filme que, confesso, fiquei intrigado pela razão do Tim Burton se interessar por esta história.

Nada nesta produção lembra os trabalhos anteriores do diretor. Tudo bem que o cara precisa se reinventar, caminhar por outras paragens e coisa e tal. Mas fica difícil não ser Tim Burton, sendo Tim Burton. A estranheça já começa pelo desenho de produção: figurinos, cenários, maquiagem, trilha sonora, etc… etc… e esta história tão linear, quase como um documentário.

Christoph Waltz dá um show de interpretação e consegue ser o mesmo vilão de sempre com aquele charme que o consagraram em outros trabalhos. O grande problema do filme, é que o roteiro tornou a história maquineísta de mais. O espectador não tem o privilégio da dúvida, de conhecer as razões dos personagens e suas motivações. Razões profundas, quero dizer. Além da questão financeira e machista apontadas no desenrolar da trama, tudo o mais passa batido ou é ignorado. Assistimos, passivamente, as cenas que se desenrolam na tela. E isso é o grande problema de Grandes Olhos.

De qualquer forma, é um filme que vale a pena assistir e conhecera história real de uma mulher que tem talento para a pintura, mas que aceita que o marido assuma a autoria dos trabalhos para ganharem dinheiro em um mundo machista.

Vai, Eddy!

Freddy tinha um sonho: Seguir os passos de seu ídolo, o campeão de ciclismo Eddy Merckx. Acontece que o destino do garoto já estava traçado antes mesmo dele nascer.

O futuro de Freddy é ser a quarta geração de açogueiro na pequena cidade onde mora com sua família. Por sorte (ou não) um grande supermercado vai abrir as portas nas redondezas e, para marcar a data, o estabelecimento organiza uma corrida de bicicletas, cujo prémio maior será receber o troféu das mãos grande Eddy Merckx.

O filme Vai, Eddy! com roteiro e direção de Gert Embrechts, vai narrar esta história e as batalhas que o garoto terá que enfrentar para conseguir realizar seu sonho.

Como todo filme de superação, este também tem lá seus clichês e o final previsível e tudo mais. As interpretações não são as melhores do mundo, mas o filme comove em alguns momentos. Jelte Blommaert, no papel de Freddy, se esforça bastante para tornar seu papel verossímil.

Lucke

O filme Lucke, escrito e dirigido por Steven Knight é uma produção muito interessante e prova que uma boa ideia não precisa, necessariamente, ter grandes cenários, figurinos, trilha sonora arrebatadora e cenas mirabolantes para prender o espectador.

Imagine você pegarr “carona” com um sujeito e, durante noventa minutos, acompanhar o desenrolar da vida deste cara. Muito mais que um “road movie”, Lucke é, antes de tudo, um filme humano. Demasiadamente humano.

Já nas primeiras cenas, o ator Tom Hardy prova que foi uma boa escolha para interpretar o atormentado Ivan Locke. Em nenhum momento o filme é enfadonho apesar de contar somente com um personagem em cena nos noventa minutos que transcorre este suspense de tirar o chapéu. A tensão aumenta a cada ligação recebida ou nas chamadas realizadas por Lucke. Como ele consegue administrar tudo isso em pleno trânsito é algo enervante.

Ivan Lucke é um engenheiro de edificações, casado há mais de quinze anos e pai de dois filhos que, ao final do expediante decide enfrentar seus medos e resolver suas pendências. Assim, ele pega sua BMW e parte para assistir o parto de seu filho fruto de um caso furtuíto com uma colega de trabalho. O problema, é que pela manhã terá que acompanhar de perto o descarregamento de mais de 250 caminhões de concreto em sua obra para que nada saia errado.

Durante o tracheto até o hospital, Lucke recebe (e faz) inúmeras ligações: Do patrão em pânico pela ausência do imprescindível engenheiro no momento mais crítico da edificação; da amante que clama por sua presença na hora do parto; dos filhos que esperam sua companhia para assistir a um jogo importante; do mestre de obras, que bêbado, não sabe como gerenciar a crise e da própria mulher que fica sabendo do filho bastardo e da escapadinha do marido.

Um filme que vale a pena assistir.

Nota: 4/5

Os números de 2014

Os duendes de estatísticas do WordPress.com prepararam um relatório para o ano de 2014 deste blog.

Aqui está um resumo:

A sala de concertos em Sydney, Opera House tem lugar para 2.700 pessoas. Este blog foi visto por cerca de 21.000 vezes em Se fosse um show na Opera House, levaria cerca de 8 shows lotados para que muitas pessoas pudessem vê-lo.

Clique aqui para ver o relatório completo

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Na minha infância e adolescência, lembro que sentia medo quando ouvia uma sirene, via passar uma “radiopatrulha” ou tinha que cruzar, na mesma calçada, com alguém de uniforme militar ou policial.Lembro também que, toda vez que passava um veículo com “chapa-branca”, batíamos no ombro da pessoa mais próxima e fazíamos continência. Tenho lembrança ainda do clima de medo no ar e de não entender aqueles números e estatísticas que o regime divulgava na imprensa. Eram dados que mostravam a felicidade do povo, de como éramos uma nação forte economicamente e que nossa indústria e comércio produziam e vendiam bens de consumo ao alcance do trabalhador brasileiro.

Eu assistia a tudo isso e pensava comigo mesmo: Será que só eu não tenho acesso a toda esta riqueza e vivo à margem desta sociedade maravilhosa que a imprensa divulga? Olhava para o lado e via gente mais pobre ainda e vivendo miseravelmente. Realmente não entendia aquelas estatísticas. Pior que não entender a “propaganda oficial” era perceber que os “adultos” não faziam nada contra a mentira descarada (claro que eu não tinha conhecimento, naquela altura da minha vida, da resistência e das pessoas que lutavam contra a ditadura).

Vem deste tempo, minha descrença completa sobre números e estatísticas divulgadas na imprensa. Depois que li 1984, de George Orwell, entendi a armadilha que o regime nos impunha com sua propaganda “Pra Frente Brasil” e toda aqueles inúteis e falsos números.

Medo, insegurança e descrença são sentimentos que lembro daqueles tempos.

Quando você for pensar, cogitar ou mesmo admitir a hipótese da volta dos militares ao poder, peça que alguém da sua família que viveu nos anos de chumbo, conte sua história e a experiência que teve em viver aquele período.

DITADURA NUNCA MAIS!

50 anos do golpe

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Cena 1
Local: Quarto de hospital por volta das 23h30. 
Celular toca de forma estridente em alto volume.
Paciente “A”, após alguns segundos tentando encontrar o aparelho, atende à ligação:
– Alô!
– …
– Oi, tudo bem? Trocou o chip? Não reconheci o número…
-…
– Não tudo bem, agora está tudo bem.
– …
Diálogo transcorre por quase 10 minutos sobre assuntos triviais. 

Cena 2
Local: Quarto de hospital por volta da uma da madrugada
Celular da paciente “A” toca novamente e a acorda de sono profundo.
– Alô!
– …
– Tudo bem, estava dormindo um pouco
– …
– Pois é, menina eu soube. Que coisa!
– ….
– Eu já falei antes, que ela tem que falar pra ele sobre isso…
– …
– Tá, tchau!

Cena 3
Local: Mesmo quarto de hospital por volta da uma e meia da madrugada
Celular da paciente “A” toca insistentemente. Outros internos no quarto despertam com a música do aparelho que continua a tocar até ser atendido. 

– Alô!
– ….
– Estava dormindo. 
– …
– Tudo bem, agora estou bem. 
– …
– Tá bom, depois a gente vê isso e resolvemos quando eu chegar em casa.
– …
Diálogo continua por alguns minutos sobre problemas e dilemas particulares.

Cena 4
Local: quarto de hospital por volta das duas da madrugada
Celular, em alto volume da paciente “B” , toca. Todos acordam e ouvem, constrangidos, mais um diálogo de assuntos particulares. 

Poderia ficar aqui enumerando cenas e mais cenas desta insensatez das pessoas que ligam para seus familiares internos em hospitais. Provavelmente, você que acompanhou ou acompanha familiares já devem ter enfrentado situações constrangedoras e incômodas como esta. 

Que coisa. Nem nos hospitais as pessoas se desligam dos seus celulares! Além de perturbarem a recuperação da pessoa que recebe a ligação, perturbam também os demais pacientes que estão deitados (e tentando dormir) nas camas ao lado. 

Deveria ser norma, pacientes desligarem seus celulares a partir das 20h. Melhor ainda, não portarem celulares nos quartos. Afinal, estão em recuperação e em tratamento de suas doenças. Seus familiares deveriam ter o bom senso de não ligarem para eles em horários tão impróprios incomodando todo mundo. Além de falta de bom senso, é um desrespeito!

Aquele cartaz de corredor de hospital com uma enfermeira exigindo silêncio deveria, também existir outro, em maior tamanho, proibindo uso de celular.

Glória

ImagemRealmente não existem coincidências nesta vida! Depois de assistir ao belo “Azul é a Cor Mais Quente” resolvi assistir ao filme Glória, dirigido por Sebastián Lelio. O primeiro fala dos relacionamento amorosos da juventude e o segundo do amor na terceira idade. Ambos, possuem cenas de nudez e sexo sem ofender a dignidade do espectador ou pela gratuidade do nu como forma apelativa para criar polêmica na mídia e escandalizar moralistas de plantão. Os dois filmes são verossímeis em suas histórias e sinceros nos seus respectivos roteiros e diálogos.

A personagem que dá título ao filme, é uma mulher cinquentona que, divorciada há mais de dez anos, classe média alta, bom emprego, filhos crescidos e independentes e, para divertir-se, frequenta salões de bailes da terceira idade. Se define como uma mulher que “Ás vezes fica triste pela manhã, às vezes, à tarde”. Ou seja, é uma mulher que tenta sobreviver e encarar de frente todos os desafios.

Nestes bailes, flerta com um e outro, relaciona-se sexualmente quando lhe dá prazer e vai levando a vida cantando as músicas que escuta pelo rádio e bailando pelas noites chilenas. Aparentemente, é uma mulher resolvida que criou os filhos de forma a torna-los independentes para que eles não peguem no seu pé. Claro que ela ama os filhos e se preocupa com eles. Não os abandonou de todo e os acompanha e os orienta quando necessário.

Ao conhecer Rodolfo (Sérgio Hernández) também divorciado, Glória sente que pode surgir ali um relacionamento mais duradouro e se permite vivenciar novamente esta paixão e esta união. Lá pelas tantas, o amado declama um poema que lhe dá a certeza que encontrou novamente um companheiro apaixonado e que podem ser felizes juntos. Quem não acreditaria nisso, ao ouvir, do amado a declamação do seguinte poema:

“Eu gostaria de ser um ninho,
se você fosse um passarinho”.

“Eu gostaria de ser
um lenço se você”
“fosse um pescoço
e estivesse com frio”.

“Se você fosse música,
eu seria uma orelha”.

“Se você fosse água,
eu seria um copo”.

“Se você fosse a luz,
eu seria um olho”.

“Se você fosse um pé,
eu seria uma meia”.

“Se você fosse o mar,
eu seria uma praia”.

“E se você ainda fosse o mar,
eu seria um peixe,”
“e nadaria em você”.

“E se você fosse o mar,
eu seria sal”.

“E se eu fosse sal,
você seria alface,”
“um abacate ou, pelo menos,
um ovo frito”.

“E se você fosse um ovo frito,”
“eu seria um pedaço de pão”.

“E se eu fosse um pedaço de pão,
você seria manteiga ou geleia”.

“Se você fosse geleia,
eu seria o pêssego na geleia”.

“Se eu fosse um pêssego,
você seria uma árvore”.

“E se você fosse uma árvore,
eu seria sua seiva”
“e correria em seus braços
como sangue”.

“E se eu fosse sangue,”
“viveria em seu coração”.

ImagemEmocionada Glória derrama-se em lágrimas e resolve assumir de vez o relacionamento. Sente, todavia, que Rodolfo esconde este relacionamento de sua família. Ela por sua vez, faz questão de apresentar o companheiro para os filhos. Ela mostra assim, que não é uma mulher de brincadeira e tem coragem de fazer seu próprio destino. Mesmo que tenha falhado no casamento anteriormente. Infelizmente não é o que acontece com Rodolfo. Divorciado há um ano, não conseguiu ainda se desvincular da família e sustenta a mulher e as filhas. Aliás, são extremamente dependentes dele. Ligam nas horas mais impróprias interferindo assim neste novo relacionamento.

Esta dependência da família do amado vai minando, pouco a pouco, a convivência do novo casal e, por não conseguir separar-se da antiga família, Rodolfo vai perdendo a nova companheira. Glória sabe que precisa dar um ultimato e, muito esperta sugere que eles passem dez dias isolados do mundo numa espécie de lua de mel. Claro que ele não consegue encarar esta realidade e foge, covardemente, de seu destino ao lado de Glória.

Um belo filme sobre relacionamentos maduros e a coragem de uma mulher que enfrenta seus desafios de cabeça em pé e não tem medo de encarar novos relacionamentos. Claro que não aceita parceiros covardes ou que não queiram assumir, verdadeiramente, esta nova realidade. Uma mulher de fibra das muitas que existem a nossa volta.

A muito não via um filme tão verdadeiro nesta questão da maturidade feminina e das suas conquistas. Glória é uma mulher com seus defeitos e qualidades, suas tristezas e alegrias e que está disposta a não ficar na janela a ver o tempo passar e ao cair, levanta a poeira e segue em frente. Bravo!

A interpretação de Paulina García na pele de Glória é emocionante. Convence em cena e, como a própria personagem, não tem pudores de aparecer em nu frontal em várias cenas. Por este trabalho, foi premiada no Festival de Berlin em 2013. Impressionante também a interpretação de Sérgio Hernández na figura do atormentado Rodolfo.

Só a título de observação: Muito legal ouvir “águas de março” de Tom Jobim, interpretado pelos atores no filme!

Como se vê, é complicado mesmo os relacionamentos humanos. Sejam eles jovens ou maduros. Viver com outra pessoa requer, muito mais que amor. Requer afinidades, companheirismo e atitude. Ambos os filmes tratam desta questão e prova que nós, seres humanos, somos realmente muito complexos.

ImagemDepois de assistir ao filme “Azul é a Cor Mais Quente”, dirigido por 

Abdellatif Kechiche e brilhantemente interpretado por Adèle Exarchopoulos e Léa Seydoux posso dizer, sem medo de errar, que esta produção vai entrar na minha lista dos dez mais deste ano. 

Raramente vi um filme retratar o amor de forma tão intensa e verdadeira. O amor e o desejo, diga-se. E não são só as questões do coração (e do desejo) que Abdellatif mostra nesta produção. É possível, pela narrativa, ter uma visão mais ampla do ser humano: Seus medos, angústias, desejos, perdas e ganhos. Um painel humano muito mais amplo do que simplesmente uma relação amorosa entre duas pessoas. 

Antes de continuar a ler o texto abaixo, aviso que sou campeão em spolier. Assim, se você ainda não viu o filme, melhor parar por aqui. Depois até gostaria de saber sua opinião sobre este belo filme. 

Um recurso bastante utilizado na narrativa, é dar ao espectador pistas das situações em que Adèle vai enfrentar ao longo da narrativa. Em sala de aula, o texto que estão estudando trata justamente da questão do amor, atração e a possibilidade, ou não, do “amor à primeira vista”. Na cena seguinte assistimos exatamente este acontecimento quando Adèle cruza, pela primeira vez, com Emma. Até mesmo a tentativa que ela faz em se envolver com um colega de sala de aula sabemos que seu destino já está traçado com a mulher de cabelo azul. Adèle também já sabe disso. 

Toda mudança de situações de vida dos personagens, é precedido de cenas que vão dar ao espectador a chance de entender o que virá e as escolhas que as amantes terão que enfrentar e o que lhes reservam o destino. O diálogo das personagens sobre a obra de Sartre e sua teoria filosófica do existencialismo precede outra mudança ou entendimento das emoções que estão passando no momento. Até mesmo a festa em que Emma realiza para apresentar seus amigos a amente, o recurso é utilizado com o filme que passa ao fundo. Ambas as cenas (o filme que os convidados assistem e o desenrolar do “nosso” filme) são pontuados das mesmas situações. Brilhante!

Não pense que este recurso é enfadonho ou de menosprezo pela inteligência do espectador. Longe disso. Toda vez que isso acontecia, eu ficava mais curioso ainda em saber como os personagens iriam reagir em suas vidas e nas suas escolhas a partir destes preâmbulos textuais, visuais ou mesmo através de eróticos sonhos. Sim, Adèle sonha sua primeira noite de amor com a mulher de cabelo azul antes mesmo da primeira transa real. 

Como já citei acima, o filme retrata outras situações humanas e não fica só nesta questão de desejos sexuais. Esta produção é mais impactante justamente por isso. Relação homem/mulher, divisão de classe social, compatibilidade (ou incompatibilidade de convivência, relações familiares, amor e claro, homossexualismo. 

Um dos aspectos interessantes tratado no filme, foi mostrar a incompatibilidade de uma relação duradoura com pessoas com interesses tão antagônicos. Adèle quer ser uma professora primária e seus interesses se resumem a este mundo. Apesar de ser uma voraz leitora, não entende muito o que lê. No relacionamento de ambas, seria aquela responsável pelas lidas domésticas (ela que faz o jantar, cuida da casa enquanto Emma fica na cama lendo jornal). Por outro lado, Emma é artista plástica, possui um amplo círculo de amigos intelectuais e adora uma discussão intelectual sobre filosofia, arte e o mundo que a rodeia. Temos aqui, uma relação que tem tudo para não dar certo. Para mudar esta situação, Emma tenta, de todas as formas, incutir na amada o desejo que ela abra seus horizontes e a acompanhe neste universo e se torne uma companheira para todas as ocasiões. Na cena em que Emma, desesperadamente tenta encontrar uma forma de salvar a relação, pede que Adèle se torne uma escritora já que ela gosta de ler e escreve alguns poemas que esconde em seu diário. 

Assim, começam a surgir rachaduras na relação, Incompatibilidades que o desejo sexual não consegue suprir. Até mesmo o segredo que faz perante seus colegas de escola da relação que possui torna a situação mais complicada ainda. Não tem como ela se aceitar se ela não aceita que os outros saibam da sua relação. Não tem como dar certo se ela, a todo momento, procura outra relação heterossexual para encontrar respostas para suas dúvidas e desejos. Esta ambiguidade de desejo, vai minando mais e mais esta relação. 

Azul é a cor mais quente, não é, como poderia se supor, um filme sobre homossexualismo. Não só isso, pelo menos. E quando trata do tema, o faz com sinceridade, respeito e sem os clichês e estereótipos comuns de produções que se dedicam ao tema. A história da relação amorosa das protagonistas, é a história de qualquer casal, sejam eles formados por homem e mulher ou pessoas do mesmo sexo. A questão tratada aqui é relação de pessoas que se amam. Desejos e conflitos existenciais comuns a todos os casais heterossexuais ou homossexuais. 

As cenas de sexo são de deixar qualquer um com o coração acelerado! Cenas de uma plasticidade incrível e sem pudores. Belíssimos momentos e fortes emoções. A beleza das atrizes e seus corpos bem torneados ajudam, e muito, a deixar o espectador excitadíssimo e atento a cada gesto e gemidos em cena. Prepare-se!

Brilhante atuação de Adèle Exarchopoulos (Adèle) e Léa Seydoux (Emma) que conferiram veracidade aos seus personagens. Parabéns a jovens atrizes pela coragem das cenas calientes e de se entregarem de corpo e alma a esta história de amor. Salva de palmas para a produção que soube contar esta história de forma digna, sem concessões e sem os estereótipos e clichês.

Não Me     Abandone Jamais, dirigido por Mark Romanek baseado na obra de Kazuo Ishiguro é uma daquelas produções que ficam martelando na cabeça do espectador após a projeção.  Devo confessar que este filme me incomodou bastante.  No bom sentido, claro já que gosto muito de roteiros que coloquem mais dúvidas do que certezas na minha cabeça. Foi o que fez o roteirista Alex Garland com sua arte. Se fosse obrigado a escrever, em uma única frase, a história deste filme, me atreveria a declarar o seguinte: Viver só vale à pena se estivermos com o coração transbordando de amor.  Tudo o mais é irrelevante.

Calma, não precisa torcer o nariz com o clichê do parágrafo acima. Até porque, este filme não possui os clichês que se esperaria de uma produção que tem o amor como tema. São poucos na verdade nos 103 minutos que transcorrem na tela. Aliás, Não Me Abandone Jamais nem é classificado como “romântico” pela crítica especializada. “é um filme de ficção inglês“ foi o que li. Vamos ao roteiro para não ficar divagando e dando voltas.

Só um aviso: Caso não tenha assistido ao filme, não leia os comentários a partir daqui porque sou campeão em spoiler.

Katy, Tommy e Ruth cresceram juntos num internato inglês aparentemente muito convencional com regras rígidas de comportamento, disciplina e excelente educação (pedagógica e física) num ambiente saudável rodeados de exuberante natureza e sossego. Como todo bom internato inglês que se preze.

A vida dos adolescentes em Hailsham, afastados de qualquer contato com o mundo exterior, segue uma rotina de estudos, excelente alimentação, exercícios físicos e… Bem, ai é que a coisa se complica. Tem alguma coisa estranha no comportamento passivo e ingênuo das crianças e no relacionamento distante e asséptico entre professores e internos.

Esta normalidade toda é quebrada com a chegada da nova tutora da 4ª série, Miss Lucy. Na convivência com os alunos, Miss Lucy percebe que as crianças ignoram completamente o que se passa fora dos muros da instituição e, pior que isso, elas acreditam em um futuro promissor. No discurso que faz em sala de aula a tutora revela a dura realidade às crianças:

“Nenhum de vocês irá para os Estados Unidos, nenhum de vocês será ator de cinema. […] Suas vidas já foram mapeadas. Vocês se tornarão adultos e, antes de ficarem velhos, antes mesmo de entrarem na meia-idade, começarão a doar órgãos vitais. Foi para isso que todos vocês foram criados. Vocês não são como os atores que vêem nos vídeos, não são nem mesmo como eu. Vocês foram trazidos a este mundo com um fim, e o futuro de vocês, de todos vocês, já está decidido”

Depois desta revelação, eu pensei que os internos cairiam em depressão ou se rebelariam contra esta desumanidade e não aceitariam, passivamente, esta existência de “ratos de laboratório”. Mas não é o que acontece. E isso é o mais perturbador da narrativa. Como não reagir indignado com uma existência desta?

A partir desta revelação (para os jovens e para o espectador) o filme toma outro rumo no que se poderia classificar como segundo ato. A partir do discurso revelador de Miss Lucy, comecei a ficar incomodado com a passividade das crianças em aceitar uma vida sem futuro e uma existência de simples “mercadorias” em uma loja de horrores. Além é claro, de pipocar na minha cabeça inúmeros questionamentos que a trama não revela: Como a sociedade chegou a este ponto de menosprezar a vida das pessoas? Como se dá este processo doação/recepção dos órgãos? Que fim levou a ética médica, a questão moral, religiosa e filosófica que permitiram que outras pessoas viessem a explorar outros seres humanos como mercadoria? E principalmente, como eles (as crianças e depois adultos), permitiram receber este tratamento desumano? Deveriam reagir!

Ao término do filme e ainda sob o impacto do que tinha assistido uma única certeza: Tinha mais dúvidas do que respostas na minha inquieta cabeça. Precisaria de mais tempo para digerir tudo isso e fui tentar conciliar o sono. Que não vinha… Cenas do filme, diálogos comoventes e aquelas cores sombrias embalados por uma trilha sonora inquietante se acumulavam no meu cérebro e perturbavam minha paz noturna. Tive pesadelos. Sim, eu sou uma pessoa impressionável e suscetível a sentimentos (bons e/ou ruins). Que fazer se sou um ser sentimental! Mas é preciso racionalizar para tentar entender a trama (será possível?) e o que exatamente foi proposto na obra de Ishiguro. Será que já não estamos caminhando nesta direção? Quando uma mãe, no desespero de salvar um filho que precisa de doação, resolve engravidar novamente para conseguir órgãos compatíveis não estaria desta forma praticando ato parecido? A ciência já deu mostras de sua capacidade de clonar seres vivos (lembram da ovelha Doly?) e tantos experimentos com DNA, células tronco, etc… etc…  Uns dizem que o homem quer ser Deus e também ser responsável pela vida e morte de seus semelhantes. Quando não simplesmente extinguir outros seres. Mas isso é outra história.

O interessante no roteiro é que a história, apesar de ser uma ficção científica, começa  na década de 50 e, percebe-se que estes fatos (clonagem humana e seres criados somente como portadores de órgãos para doação) já estão firmemente aceitos pela sociedade e ninguém se escandaliza mais com esta barbárie. Uma distopia interessante porque se acredita (e se espera) que o futuro será melhor para todos. Bem, para as pessoas que recebem as doações pode ser, mas e os internos, quem se preocupa com eles? Crueldade maior é saber que os jovens eram estimulados em Hailsham a desenvolverem aptidões artísticas como pintura, literatura, poesia, artes plásticas para que tais trabalhos fossem expostos numa respeitável galeria. Na realidade, tais “obras” se destinavam para outros fins que o espectador (e os jovens), irão descobrir ao final do filme quando a guardiã da instituição, Miss Emily faz a seguinte revelação.

“Nós levávamos seus trabalhos porque achávamos que eles revelariam a alma de vocês. Ou, para esclarecer melhor a questão, fazíamos isso para provar que vocês tinham uma alma. […] Demonstramos para o mundo que, quando criados num ambiente humano e culto, os alunos podiam se tornar tão sensíveis e inteligentes quanto qualquer ser humano normal. Antes disso, todos os clones – ou alunos, como nós preferíamos chamá-los – existiam apenas para abastecer a ciência médica. Nos primeiros tempos, logo depois da guerra, isso era tudo que vocês representavam para a grande maioria. Objetos obscuros em tubos de ensaio”.

O que me levou a entender as razões do roteiro em ambientar a história no passado e não no futuro. Considerar outros seres humanos sem alma já vem de um passado não tão remoto assim. Os escravos eram considerados meros animais de força bruta destituídos de qualquer humanidade e sem alma. Hitler, e seus cúmplices, acreditavam que os judeus eram ratos e, como tal, eram tratados. Em ambos os casos (e muitos outros) a sociedade não reagiu para evitar estas barbáries. Como foi possível que nações inteiras aceitassem a exterminação de seis milhões de judeus? Como foi possível que pessoas cultas e ditas “civilizadas” explorassem, por décadas e décadas, a mão de obra escrava e considerassem estas pessoas sem alma? Enfim, esta é uma questão filosófica, moral e religiosa que já nos acompanha há séculos. E como se vê, não evoluímos quase nada nesta área de respeito ao próximo. Vide os povos da África que morrem à míngua, mulheres que sofrem toda sorte de crueldade e colocadas como seres de segunda classe em nome de religião e de uma cultura retrógrada. Vamos falar de amor? Afinal você deve estar se perguntando onde entra o romântico nesta história. Isso se você não desistiu da leitura deste texto e está correndo até agora deste dramalhão todo. Perceberam que temos um triângulo como personagens principais da história? Pois é. Como todo bom triângulo outro drama irá se desenrolar paralelamente à história dos clones. Assim, voltamos ao sentido da frase que citei no primeiro parágrafo: Viver só vale à pena se estivermos com o coração transbordando de amor.  Acredito que Ruth (Keira Knightley), Tommy (Andrew Garfield) e Kathy (Carey Mulligan) suportaram esta existência porque, de uma forma inesperada, o amor os alcançou. Assim como ciúmes e a inveja. Porque um triângulo sem estes sentimentos também não seria trágico e sim um “ménage à trois” (risos). A impossibilidade de Tommy em por fim ao relacionamento com Ruth (relacionamento só sexual, diga-se) e declarar-se verdadeiramente para Kathy leva-os a viverem na esperança de que um dia o amor de ambos possa ter chance de concretizar-se. Nesta esperança de viver um grande amor, vão sofrendo a humilhação de serem meros carregadores de órgãos. Quando finalmente Tommy se declara e passam a viver a amplitude deste amor, o tempo, inexorável,  já passou para ambos e as doações vão minando a possibilidade de vida futura. Ao fim, cabe a Ruth, a última sobrevivente do trio, expor as razões de ter conseguido enfrentar sua sina:

“Venho aqui e imagino que este é o lugar onde descansa tudo o que perdi desde a minha infância. Digo a mim mesma que se fosse verdade e esperasse o suficiente uma pequena figura apareceria no horizonte através do campo e gradualmente iria crescendo, até que eu visse que era o Tommy. Ele acenaria e talvez me chamasse. Não deixo que a fantasia vá além disso. Não posso permitir.

Lembro a mim mesma que tive sorte de ter passado um tempo com ele. O que não sei ao certo é se nossas vidas foram tão diferentes das vidas das pessoas que salvamos. Somos todos mortais. Talvez nenhum de nós realmente entenda o que passamos ou sinta que tivemos tempo o bastante.”

Vale salientar a comovente trilha sonora, a direção de arte que utilizou cores neutras para destacar bem o distanciamento dos relacionamentos humanos. Em cena, os personagens principais sem sobrenomes, sem identidades e pouquíssimas pessoas  a cruzarem seus caminhos. Uma solidão sufocante, quase como um personagem na história. Devo confessar que não sou fã de Keira Knightley, mas sua atuação não compromete o filme como um todo. As interpretações de Andrew Garfield e Carey Mulligan são contidas e comoventes. Vale a pena assistir. Mas esteja preparado psicologicamente e tenha lenços para enxugar rios de lágrimas. 

A Caça

Gosto muito de filmes que coloquem “minhocas na minha cabeça” e que me deixem com o questionamento, será que entendi direito? A Caça, dirigido por Thomas Vinterberg encaixou-se perfeitamente nesta categoria de filmes. Muito longe de ser um suspense meia boca, revelou-se um grande filme dramático com inúmeras perspectivas de entendimento e brilhantemente interpretado por uma trupe de atores dos mais afinados que vi recentemente.

Sou muito atento às “dicas” que os roteiristas vão deixando nas primeiras cenas de suas histórias para dar ao espectador uma amostra do que será tratado no decorrer da trama. Com esta produção não foi diferente. Na cena em que o professor Lucas (Mads Mikkelsen) caminha, de mãos dadas, com a menina Klara com o cuidado de seguir “a linha” indicada na estrada, já percebi o tema (ou os temas) que o filme abordaria. O ser humano sempre segue linhas de comportamento na vida: moral, ética, social, cultural, etc… etc… A maioria, pelo menos. Afinal, somos seres sociais e é preciso seguir na linha para mantermos nossa condição de seres racionais. Outros extrapolam os limites e saem da linha para viverem nos presídios mundo a fora.

Com o passar dos minutos (e o desenrolar da história), a perspectiva de “andar ou não na linha” perde o significado quando Lucas, que sempre fora considerado por todos um cara legal, trabalhador, íntegro e um sujeito acima de qualquer suspeita cai na armadilha de se ver envolvido num jogo perverso de ser culpado por pedofilia. Então, andar na linha não tem sentido nenhum quando o que conta é a opinião que o público tem de você (culpado ou não). Por isso a cena anterior para deixar bem claro ao espectador a integridade do personagem. Se todos dizem ou pensam que você é culpado não faz a menor diferença se é verdade ou não. Na ótica deles, claro.

Pessoas influenciáveis influenciam outras pessoas e assim a mentira toma proporções inimagináveis até tornarem-se verdades inquestionáveis. Aquela velha história: Onde há fumaça, há fogo crêem a maioria desinformada ou maldosa. O que fica é a imagem que vai se formando na cabeça das pessoas influenciáveis pelo que a mídia diz ou o que a fofoca maldosa diz de você: Bandido ou herói. Uma linha tênue como se vê…

Assim, apontado por todos como pedófilo e sofrendo toda série de violência verbal, moral e física, Lucas tenta provar sua inocência feito Josef K, o personagem emblemático de Kafka, que se vê envolvido num processo que não sabe do que é culpado e cuja burocracia jurídica o enreda em tramas e teias das mais inverossímeis.

Outro ponto interessante nesta estranha história é colocar por terra o ditado popular que criança não mente. Aqui mente e muito bem. Quem não acreditaria numa menininha linda, loira, olhos azuis e de uma meiguice comovente? Claro que psicólogos forenses não recomendariam a forma como o policial inquiriu a garota para saber exatamente o que ocorreu. Eu, que não sou psicólogo infantil (e muito menos forense) achei aquela entrevista das mais estranhas. Ou seja, é mais fácil acreditar na criança que, por princípio não mente do que em um adulto que está rodeado, de forma suspeita, por crianças.

As razões que levam Klara a levantar falso testemunho de abuso sexual se explica pela convivência tumultuosa e pouco amorosa que leva junto aos seus pais. Na tentativa de buscar conforto e uma aproximação afetiva com o “tio” da escola ela recebe uma reprimenda para manter um certo distanciamento. Por vingança (ou seria um pedido de ajuda?) resolve colocá-lo em apuros.

Como se vê, o roteiro nos abre inúmeras possibilidades de interpretação e análise. Além é claro de relatar os problemas pessoais que o personagem enfrenta na sua vida de recém separado (litigiosamente pelo que se percebe) e longe de seu amado filho. Aliás, tema que por si só daria outro filme.

Semana do Livro

No período da Semana do Livro, de 18 a 24 de abril, várias entidades se mobilizam para promoção de ações que sensibilizem a sociedade e o governo para a valoração do livro e da literatura no imaginário coletivo. Desde 2005, a Câmara Rio-Grandense do Livro elabora e divulga as atividades implementadas através de seu site, que podem ser enviadas até dia 31 deste mês.

Pessoas, escolas, bibliotecas e entidades que queiram apresentar atividades de promoção de leitura podem enviar e-mail para agenda@camaradolivro.com.br. Também são aceitas sugestões por fax (fone 51 3286-4517) ou carta. Os envelopes devem ser endereçados àValdeci C. de Souza – Câmara Rio-Grandense do Livro, Praça Osvaldo Cruz, 15 / conjunto 1708 – CEP 90030-160.

Os interessados devem se identificar, informar dados para contato, descrever sua sugestão, título, tipo, local, data, horário e público-alvo. São bem-vindas todas as manifestações.

 

Semear sonhos, colher sorrisos e emocionar. Compartilhar histórias lúdicas e fantásticas e assim tornar a realidade mais branda e feliz.
Pessoas iluminadas de beleza e sentimentos, os contadores de histórias povoam o imaginário infantil e abrem portas literárias para novos leitores.

Parabéns aos meus amigos contadores de histórias!

 

Porco Espinho

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Paloma é uma criança de onze anos que pensa em suicídio. Aliás, não só pensa como pretende executar seu plano no dia em que completar doze anos de vida. O espectador sabe deste desejo nos primeiros minutos do filme Porco Espinho, dirigido por Mona Acheche e brilhantemente interpretado por Garance Lê Guilhermic na pele da suicida Paloma Josse.

No decorrer dos 100 minutos da projeção, cabe ao espectador procurar entender as razões que levaram esta bela e inteligente menina a chegar a esta desesperadora situação e a colocar fim a sua curta existência. De princípio, notamos que ela vive confortavelmente e que sua rica família lhe disponibiliza o melhor dos mundos com educação primorosa, curso de japonês e uma existência sem grandes percalços. Não percalços financeiro pelo menos.

Para entender Paloma é preciso, portanto, conhecer as relações da menina com a sua família e as pessoas que circulam a sua volta. Em não sendo a situação econômica que a aflige, voltemos então nossa atenção para a sua família: A mãe é uma neurótica que há 10 anos faz psicanálise e é uma mulher egocêntrica e alienada que conversa com as plantas e não dá a mínima importância para a existência da filha. O pai, um burocrata de alto cargo público, idem. Não que ele fale com as plantas, mas igualmente ignora a rotina da garota. Sua irmã mais velha é fútil e vive igualmente no seu mundo particular.

Assim, temos uma Paloma a circular no seu luxuoso apartamento ignorada por todos. Sabemos que muitas crianças vivem em situações muito piores que ela e nem por isso pensam (e desejam) dar cabo de suas vidas. O problema de Paloma (ou a sua idéia de futuro) é que ela não quer ter uma vida medíocre como a mãe; uma existência de rotinas do pai e a futilidade existencial da irmã. Como quebrar este círculo e este futuro que a espera? Sem perspectiva alguma e sem encontrar motivos para continuar vivendo, Paloma resolve então acabar com a própria vida.

Como todo suicida, ela também procura encontrar uma saída e alguém que a salve deste trágico fim. Sua filmadora é, neste particular, sua tábua de salvação. Filmar a vida alheia pode, quem sabe, dar-lhe outra dimensão de sua realidade e uma outra perspectiva de futuro e de caminhos a seguir. Aliás, uma boa alternativa para encontrar soluções para problemas, aparentemente insondáveis, é ver o problema de longe, sob outro prisma. E esta filmadora foi para Paloma esta ferramenta de distanciamento que ela precisava para ver sua vida sob outro ângulo. Perceber a vida alheia serviu para mostrar-lhe as inúmeras possibilidades de vida e de soluções para problemas aparentemente sem solução. Claro que ela não tinha noção de nada disso e esta vida de voyeur juvenil foi razão para continuar vivendo. Este pensamento ocorre ao espectador. A mim me ocorreu pelo menos.

Quando ela direciona a câmara para o espectador e nos filma a todos a observá-la, percebemos a humanidade da menina e seu desespero em encontrar uma saída. Qualquer saída. Uma razão para lutar por sua vida. Um paradoxo interessante de um suicida. Ao filmar o encontro da zeladora de seu prédio com um novo inquilino Paloma acompanha o renascer de um companheirismo e um amor a que ela não está acostumada a presenciar e vivenciar. Acompanhar este relacionamento e seu desdobramento vai surgindo na alma da garota uma dúvida de que a vida pode ter inúmeras possibilidade de vivências e que é possível fazer seu próprio destino. A Dúvida se instala e lutar pode ser possível. Um outro mundo é possível.

Filosoficamente falando, Paloma procura resposta a seguinte pergunta: É possível modificar o destino e ser dono do próprio futuro? De câmara em punho, a filmar a vida alheia, ela busca incessantemente responder a esta vital questão.

Prata do Tempo

Prata do Tempo, de Leticia Wierzchowski é um daqueles livros que você não percebe a passagem do tempo. Ou sente a passagem do tempo com emoção.

Imagine uma casa enorme feito um labirinto. Muitos cômodos, portas, janelas e, a habitar esta casa, muitas pessoas e suas histórias de vida e morte. A Saga da família Serrat narrada de forma contagiante pela escritora (e porque não dizer poetisa) Letícia Wierzchowski.

A vida e a morte, de mãos dadas, circulam por esta imensa casa a tocar seus habitantes. Ora com alegrias infindas, ora com tristezas homéricas. Homens, mulheres, crianças e os criados convivem – e sentem – todos os momentos desta convivência por vezes turbulentas e, por vezes numa pasmaceira de dar sono.

Acompanhar os destinos destes personagens e sentir suas alegrias e angústias deixa no leitor uma sensação de ter vivenciado igualmente todas estas emoções.

Um livro que recomendo.

Hitchcok

O filme Hitchcock, dirigido por Sacha Gervasi nada mais é que os bastidores da produção de Psicose dirigida pelo mestre do suspense Alfred Hitchcock.

O filme é divertido e, após assisti-lo, nada me acrescentou sobre a personalidade do grande Hitchcock que já não sabia pela literatura e notícias vinculadas sobre o diretor durante décadas. Suas manias, fixações por loiras, perfeccionismos nas cenas de suspense, etc… etc… etc…

Para ser franco o filme é bem chatinho. Anthony Hopkins, no papel do velho mestre, é caricato e sua maquiagem – ao exagero – não me permitiu ver o personagem título. Ou melhor, dava para ver Hopkins querendo se passar por Htichcock.

Em nenhum momento consegui deixar de ver o ator Anthony “interpretando” Alfred. Ficou muito estranho aquela maquiagem pesada e aquelas caras e bocas para parecer o mais fiel possível ao diretor de Psicose.

Exceto a recriação da famosa cena do Chuveiro com Scarlett Johansson e a bela interpretação de Helen Mirren o filme me cansou.

Amor

Logo no início do filme Amor, dirigido por Michael Haneke, senti que estava prestes a assistir o desenrolar de um drama humano. Demasiadamente humano. Não me refiro a primeira cena, quando os bombeiros invadem um apartamento e encontram uma mulher estendida na cama coberta de flores e o corpo em franca decomposição. Esta cena é também emblemática. Mas não foi esta a cena que ficou na minha cabeça.

A cena que me marcou foi mais sutil e nada chocante. Após um início tão trágico e definitivo, a cena muda para uma câmara estática que foca um público aguardando o início do espetáculo em um teatro.  Passam-se alguns minutos e a cena não muda, como a dar ao espectador um tempo de reflexão e prepara-lo para o que está por vir.  A partir deste momento, percebi que o tempo será outro, a respiração será outra e, atento, me preparei para o que viria.

Enquanto procurava um rosto familiar na platéia que me encarava, percebi que eu mesmo seria um partícipe (ou cúmplice) desta história.  Muito mais que um mero voyeur da vida alheia, seria instigado a pensar nas minhas escolhas futuras. Afinal, esta história poderia ser a minha ou a de qualquer um de nós nestas trágicas circunstâncias.

O diretor resolveu dar um claro aviso ao espectador que os dramas retratados nas próximas duas horas seriam histórias comuns a todos e que seríamos testemunhas (e cúmplices) destas relações humanas e que, em um momento crucial de nossas vidas, seremos obrigados a também fazermos nossas próprias escolhas.

Uma cena que, pelo singelo do momento, coloca-nos frente a frente com as mesmas dúvidas, anseios, angústias e nos permite um tempo de pensarmos qual decisão tomaríamos diante de tal dilema. Mas todo este entendimento filosófico (errado ou não, afinal cada um entende um filme a sua maneira e com as suas experiências de vida) adquiri ao final deste filme fantástico. Mas a cena ficou e o recado me foi dado…

Quatro parágrafos para retratar uma cena! Meu Deus, não foi à toa que este filme me cativou! Um aviso para quem ainda não teve o privilégio de acompanhar esta história no cinema: Esqueça o tempo. Permita-se observar o ambiente deste lar de idosos… Veja os quadros na parede… Veja a vida fluir pelas fotografias deste casal unido por décadas…  Respire com calma e deixe o tempo fluir sem presa. Só assim você vai entender o momento certo para ter a sua resposta para a grande pergunta que fica durante toda a projeção do filme: O que eu faria no lugar de Georges? Amar tem suas conseqüências, claro. E Anne (Emmanuelle Riva) e Georges (Jean-Louis Trintignant) tiveram uma vida inteira para desfrutar e viver intensamente este sentimento.

Viver com a pessoa amada uma vida inteira e ter que fazer a escolha dolorosa de Georges não deve ser nada fácil. Mas amar é muito mais que passar momentos felizes e prazerosos juntos. É preciso também desprendimento, coragem, afeto, amor incondicional e uma grande dose de respeito ao ser amado. Afinal, como deve ter pensado Georges, é a vida sofrida da mulher amada que conta, não a própria.

Um filme arrebatador pelo tema tratado, pela forma sincera e respeitosa como os roteiristas desenvolveram a trama  sem abusar dos clichês e da lágrima fácil da platéia. Um filme que fica no consciente e no inconsciente por muito tempo e, com certeza, ficou marcado na minha memória afetiva.

Vale salientar também as grandes interpretações de Emmanuelle Riva e Jean-Louis Trintignant que levam o filme, literalmente, nas costas. Uma produção de mais de duas horas com somente duas pessoas em cena na grande maioria das vezes é de uma coragem nos dias de hoje de um cinema cada vez mais visual e rápido. Mas como não se emocionar ao andar por aquele apartamento e não sorrir (sim, é possível sorrir com esta tragédia) no momento em que Anne brinca de correr com sua cadeira de rodas?

Enfim, quem não viu que veja… Eu vou rever com certeza.

Neptuno

Foi com raro prazer que devorei as páginas do livro Neptuno, de Letícia Wierzchowski. Cada parágrafo uma sensação diferente; cada capítulo possibilidades mil em relatos de suspense, erotismo e sangue. Sem contar aquela cumplicidade narrador/leitor que me fisgava a cada observação em que era instigado a pensar e a tentar responder as questões morais, éticas e porque não dizer, sexuais do jovem M.

Como culpar o ciumento M pelo acontecido? Como não apaixonar-se perdidamente (personagem e eu próprio) pela ninfeta June? Esta Lolita tupiniquim tinha curvas, ideias e desejos perigosos demais para ficarem imunes a uma paixão avassaladora e possessiva.

June se apresenta aos olhos do leitor pela narrativa sempre explícita e comovente do advogado Key, que por sua vez a vê (e sonha e excita-se) pela descrição do possessivo M ao contar-lhe o que se passou naqueles dias a beira mar e nos galpões desertos da cidade de Neptuno.

Também não é pra menos que esta ninfomaníaca (?!) tenha despertado desejos irracionais de jovens, adultos, solteiros e casados. Nem o próprio advogado Key (que nos relata aqueles dias) saiu imune dos acontecimentos. Claro que o leitor também irá cair nas artimanhas luxuriantes da jovem de lábios carnudos e prever (infelizmente) seu trágico fim.

Não é pra menos. Veja a descrição da bela jovem e saia ileso desta leitura se puder:

“June tinha sardas, minúsculas sardas douradas que pareciam pó de ouro. A boca era carnuda, cor de romã (…). June era uma menina crescida demais. Tinha um corpo delgado, de onde brotavam promessas. Ela andava suave e cadenciadamente. E tinha aquelas pernas longas, perfeitamente lisas…”.

Interessante também foi acompanhar o desenrolar deste trágico acontecimento na vida das outras pessoas citadas no romance. Nada será como antes no futuro destas pessoas que, de uma forma ou de outra, também foram responsáveis pelos destinos (passado, presente e futuro) destes jovens amantes.

O livro é repleto de referências literárias que ajudam o leitor a ter uma visão mais exata do charme fatal de June. Truque poderoso também para fisgar de vez o leitor ávido pelo fim da trama. A narrativa de Letícia é primorosa pela poesia e pela forma cativante que nos leva até a última página com o sangue a fervilhar na veia.

Não querendo tirar o prazer de quem ainda não leu este romance, mas devo dizer que Nabokov fez escola e agora podemos dizer que temos a nossa Lolita literária.

As Aventuras de Pi

As Aventuras de Pi é um filme interessante pelas várias questões filosóficas, religiosas e espirituais levantadas no roteiro e magistralmente dirigida por Ang Lee.

As imagens impressionam pela beleza plástica e a grandiosidade das cenas em que o jovem Pi tem seus devaneios em alto mar. Uma verdadeira aventura que vai, com certeza, comover muita gente e atrair fãs para a obra literária de Yann Martel.

O sincretismo religioso do jovem Pi e sua relação com os animais (representado por todos nós) é um tema mais complexo que o filme retrata. De qualquer forma, é importante ressaltar este relacionamento tumultuoso e este jogo de poder homem/animal existente no convívio, cada vez mais predatório. De nossa parte, diga-se.

É possível uma convivência pacífica? É possível acreditar em todas as religiões e não pertencer a nenhuma delas? É possível aceitar as diferenças e respeitar o próximo – animais racionais ou não?

Estas são questões que o jovem Pi teve que responder (ou não) na sua jornada de mais de 200 dias à deriva no oceano pacífico com o tigre de bengala chamado Richard Parker.

Com temas tão elevados a serem analisados e respondidos, o filme consegue cativar e manter o interesse do espectador até o final. Se foi ou não uma visão lúdica do jovem Pi as suas mirabolantes aventuras não saberemos. Cada um que escolha o final que melhor lhe convém e acredita de acordo com a sua espiritualidade e realidades de vida.

O Voo

O Voo, dirigido por Robert Zemeckis e estrelado por Denzel Washington é um daqueles filmes que parece que vai levantar voo e depois aterriza num dramalhão sem fim.

Olha que eu gosto de Dramas, mas Denzel não me convenceu. Ah sim, também gosto da atuação de Denzel Washington. Mas neste filme… sei não, alguma coisa não estava afinada e me perturbava aquele diálogo todo. Quando Don Cheadle apareceu em cena eu pensei: agora vai! Não foi…

Atuações boas dos atores de apoio. Porque este filme não me agradou? Vou pensar sobre isso e escrevo oportunamente. Ou não (risos).